Por que (ainda) precisamos falar sobre inclusão?
- Pertence
- há 5 dias
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Às vezes, comentários, na vida real e na internet, aparecem como piadas. Outras, como desabafos e preconceito disfarçados de opinião. Rolando pelo seu Instagram, Facebook, TikTok e tantas outras redes, você já deve ter visto comentários como “Hoje em dia tudo é inclusão”, dizem alguns, como se fosse moda. “Mas a gente já é todo mundo igual, pra quê separar?”, questionam outros, como se o reconhecimento das diferenças fosse o que causasse a desigualdade. E, pior ainda, há quem diga que a inclusão “só serve para diferenciar mais ainda as pessoas”.
Esse tipo de discurso tem ganhado força nas redes sociais e, muitas vezes, parece confrontar diretamente vozes e pessoas cansadas de “ter que mudar” para combater pensamentos como esses. Mas será mesmo que já chegamos a um ponto em que a inclusão virou exagero? Ou será que ela ainda não chegou onde deveria?
A verdade é que falar de inclusão é falar de realidade, e não é possível tratar a realidade com achismos ou narrativas únicas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, o Brasil possuía mais de 18,6 milhões de pessoas com deficiência, representando 8,9% da população com 2 anos ou mais. Mesmo frente a estes números, até o momento leis e campanhas em vigor não foram o suficiente para combater o desemprego, o isolamento social e a sub-representação dessas pessoas, deixando marcas profundas da exclusão cotidiana.
Não é difícil perceber isso: basta entrar em um shopping, num transporte público ou numa sala de aula e observar quem está ali e quem não está. A acessibilidade não é plena, a empregabilidade ainda esbarra no preconceito, e as políticas públicas nem sempre alcançam quem mais precisa. A suposta igualdade que muitos dizem existir é, na verdade, uma igualdade moldada a partir de um padrão de corpo, mente, comportamento e produtividade que exclui quem não se encaixa.
Por isso, não se trata de criar privilégios. Trata-se de corrigir distâncias. A inclusão não é sobre dar mais a uns, mas garantir o mínimo a todos: o direito de ser, de participar, de pertencer.
É natural que existam desconfortos. Afinal, incluir é mudar o que antes era cômodo para alguns e, para corrigir isso, é preciso mudar papéis e lugares. É transformar o que foi historicamente construído para alguns e fazer com que, agora, contemple muitos. É revisar práticas, rever linguagens, repensar estruturas, mas essas mudanças não acontecem para agradar grupos específicos. Elas acontecem porque o mundo real é e sempre foi diverso.
Na educação, por exemplo, os obstáculos ainda são visíveis. De acordo com o Censo Escolar de 2023, 95% dos estudantes com deficiência estão matriculados na rede regular de ensino. Parece um avanço, mas o número esconde as desigualdades. Muitos desses alunos não contam com salas acessíveis, professores capacitados ou apoio pedagógico necessário. Em vez de se sentirem incluídos, vivem em constante adaptação àquilo que não foi feito para recebê-los.
No mercado de trabalho, a distância entre o ideal e o real também é grande. Apesar da existência da Lei de Cotas (Lei 8.213/91), um estudo do IPEA mostrou que apenas 24,5% das empresas brasileiras cumprem integralmente a legislação. E mais alarmante: uma pesquisa da Catho revelou que 68% dos profissionais com deficiência acreditam que as empresas os contratam apenas para cumprir a lei, sem um compromisso verdadeiro com a inclusão.
Enquanto isso, do outro lado da tela, seguimos vendo vídeos virais ironizando pessoas com deficiência em lugares públicos. Gente se incomodando com comportamentos atípicos. Gente reclamando que “não é obrigada a ter paciência”. E talvez esse seja o ponto mais doloroso: a paciência, o acolhimento e o respeito ainda são vistos como concessões, não como deveres éticos de uma sociedade que se diz justa.
O mundo não precisa ser assim. A inclusão pode, e deve, ser um valor coletivo. Ela pode ser construída no afeto, na convivência e na escuta. Pode ser fortalecida quando paramos para pensar que ninguém está pedindo privilégios, apenas humanidade e dignidade. E isso acontece quando entendemos que o problema não é o outro ser diferente, mas o mundo não estar preparado para abraçar essas diferenças.
No Pertence, cada projeto, cada atividade e cada encontro é uma tentativa real de mostrar que inclusão é, acima de tudo, convivência e compreensão. É ensinar e aprender com o outro. É perceber que a presença de pessoas com deficiência nos espaços não é um favor. É uma necessidade para a transformação de todos, nos palcos, no mercado de trabalho, na educação e onde eles estiverem.
Fica o questionamento: se buscamos um mundo mais igual, talvez o primeiro passo seja parar de achar que já chegamos lá ou que já estamos quase lá. Ainda não chegamos, mas podemos chegar e estamos avançando muito! Só não podemos deixar ninguém pelo caminho.
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Escrito por Marco Bourscheid.
Revisado por Marina Barth.
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