Dicas de autocuidado
Chegamos ao marco de um ano de pandemia do Coronavírus no Brasil. Há um ano nossas vidas sofreram reviravoltas de todos os tipos e fomos obrigados a nos reinventar e a readaptar o nosso dia a dia. Nossas tarefas diárias de traballho, estudos, lazer e outros compromissos mudaram de uma hora para outra, sem aviso prévio. Tudo parou, tudo fechou. Todos ficamos em nossas casas o máximo que conseguimos, da maneira que era possível para cada família se organizar.
Nesse último ano fomos diariamente bombardeados com informações e notícias nos mais diversos meios de comunicação: jornal, TV, rádio, redes sociais. Protocolos de segurança, orientações de cuidado, números de casos, entre outros. Recentemente as notícias se tornaram, ainda mais, ansiogênicas: há uma nova variante, mas não há vaga nos hospitais. A vacina chegou mas o processo de vacinação é complexo e leva tempo.
Todas essas questões são externas, ou seja, acontecem fora da gente. Mas, inevitavelmente, repercutem internamente de maneira muito intensa, culminando em uma fragilidade psíquica. Nessa atmosfera de incertezas, medos e angústias, é natural que sentimentos negativos surjam dentro de nós. É evidente que os níveis de tristeza, estresse, raiva e ansiedade, por exemplo, se elevem exponencialmente. E aqui não há nada de novo: esses sentimentos sempre existiram. Todos nós, em nossas diferentes jornadas e histórias de vida, já nos deparamos com situações que fizeram com que sentíssemos emoções negativas. A grande questão é que o cenário da pandemia intensificou esses anseios, tanto em relação à duração desses sentimentos, quanto na frequência pela qual somos acometidos pelos mesmos.
A partir de tudo isso, nos questionamos: se não podemos controlar (pelo menos não de maneira direta ou completa), os fatores externos a nós (como é o caso da pandemia), como lidar com os impactos emocionais (que na maioria das vezes são negativos), dentro da gente? Muitas pessoas pensam de maneira evitativa em relação aos sentimentos negativos, isso quer dizer, evitá-los, tentar não senti-los. E aí talvez a gente tenha uma novidade: isso não é possível. Não é possível evitar os nossos sentimentos, eles são inerentes a todos nós, ou seja, são essenciais. E isso serve tanto para as emoções positivas quanto negativas também. Sabemos que os sentimentos negativos são importantíssimos para o enfrentamento de situações conflitivas e problemáticas. É através do medo que identificamos situações de perigo, por exemplo. Mesmo que a gente não goste de ter sentimentos ruins, o desconforto, que eles nos causam e que na maioria das vezes é momentâneo, é responsável pelo nosso desenvolvimento, crescimento e amadurecimento emocional.
Onde queremos chegar com tudo isso? A resposta tem dois lados. O lado “ruim” é que não podemos controlar a pandemia e não podemos controlar os nosso sentimentos. Mas o lado bom, no qual temos que focar, é que o que está em nossas mãos (e na nossa mente), é o poder de controle que temos sobre a forma que vamos lidar com eles, ou seja, o manejo com essas emoções. E tudo isso fica mais “fácil” quando entendemos a origem dos nossos sentimentos, e quando sabemos o que nos deixa de tal forma: o tão importante autoconhecimento emocional.
Vamos exemplificar: não posso evitar que notícias ruins passem na TV (até porque elas estão acontecendo), mas posso evitar de assisti-las, posso escolher não olhar. Não posso evitar a ansiedade, mas posso contorná-la com exercícios de relaxamento e meditação, por exemplo. Não posso controlar quando fico triste, mas posso escolher colocar essa tristeza para fora. Existem inúmeras maneiras de lidar com isso: conversar com alguém, escrever os sentimentos, desenhar, pintar e, por que não, chorar? O importante aqui é perceber o que estamos sentindo, reconhecer nossas emoções e a partir disso agir em relação a elas.
Pensando nesse contexto, preparamos algumas dicas para o enfrentamento de sentimentos negativos (que servem para além do período de pandemia):
- Foque sua energia em atividades prazerosas: ler um livro, escutar uma música, assistir uma série, cozinhar, se exercitar, pois todos nós temos coisas que gostamos de fazer. Encontrar o equilíbrio entre as obrigações e as atividades de lazer é fundamental para o bem estar emocional e psíquico.
- Aposte em exercícios de relaxamento: uma técnica de fácil execução é o “famoso” respirar fundo. Inspire o ar por quatro segundos, segure a respiração por mais quatro segundos e depois vá soltando o ar devagar por seis segundos. Repita esse exercício até se sentir mais calmo.
- Use a tecnologia a seu favor: a internet é um campo infinito de dicas para todos os assuntos. Pesquise coisas que você gostaria de fazer e aprenda a executar. Mantenha e fortaleça os seus vínculos afetivos com ligações de vídeo para amigos e familiares.
- Explore a sua criatividade: seja em atividades artísticas, domésticas ou físicas: pesquise novas formas de fazer as atividades que você já faz. Muitas vezes fazer de uma maneira diferente nos motiva a seguir em frente.
- Invista no seu autoconhecimento: observe suas reações frente às situações, descubra coisas que você goste de fazer, se experimente (dentro das possibilidades da pandemia), reconheça seus pontos fortes e fracos e invista neles.
Importante ressaltar que por mais que os sentimentos negativos façam parte da nossa vida, eles não devem virar rotina. Se notar que as emoções ruins estão tomando conta de você, procure uma ajuda profissional. Os profissionais da saúde mental são importantes aliados nesses momentos. E lembrem-se: estamos todos juntos nesse barco, temos uns aos outros, sejamos empáticos.
Marina Camargo Barth
Psicóloga do Pertence
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