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Crítica do Espetáculo Corpomundo: Desumano é um mundo sem sonho e sem poesia

  • Foto do escritor: Pertence
    Pertence
  • 25 de jun.
  • 3 min de leitura

A arte pode ser entendida de muitas perspectivas. Uma delas está na sua capacidade da experiência sensível e inventiva. E, portanto, a arte é uma forma privilegiada de propor imaginários, fundamentais para poder se pensar alternativas de mundo e sociedade, inclusive. E o que assistimos em Corpomundo, do Grupo Fábrica dos Sonhos, é esse exercício, o de podemos ver à nossa frente a construção de imagens e cenas poéticas que criam um universo de possibilidades para esse mundo tão carente daquilo que nos faz humanos.


O Grupo Fábrica de Sonhos — Arte, Inclusão, Diversidade e Pertencimento  foi fundado em 2018 pelo Pertence (um clube de sociabilização para pessoas com deficiência física, sensorial ou intelectual) em parceria com as artistas Paula Carvalho e Bianca Bueno. No palco, o Grupo mostra essas singularidades e individualidades que conseguem encontrar aquilo de comum que carregamos. Nos afetos, nos sabores e dissabores do viver e, especialmente, de CONviver. E ao ser um grupo que trabalha com a inclusão, temos corpos diversos de pessoas com e sem deficiências na montagem na qual vão sendo criadas imagens cheias de plasticidade que revelam os fascinantes detalhes que escapam ou a composição que coloca juntos elementos improváveis e faz disso todo seu encanto. É assim que surgem cenas cheias de ludicidade que colocam a bailar bolas brancas e luminosas que são como os vários mundos que cada um de nós é. Respeitar o planeta terra afinal é respeitar cada planeta-ser-humano que o habita. Metáfora que dá seu recado já na abertura.


E depois é uma sucessão de bem elaborados momento cênicos. Um rapaz com o gigante catavento que venta. O boneco gigante que olha lá do alto essa vida tão estranha que naturaliza as indiferenças e as injustiças. O balé com o globo terrestre. O tango recheado de humor. As sombras ali ameaçadoras, mas também passíveis de serem cooptadas a uma hilária brincadeira. O valseado com o cadeira de rodas. A sombra solitária de uma árvore sem folhas projetada que é povoada de corporeidades dançantes.


Tudo com um acabamento primoroso. Figurinos inspiradores nas formas, cores e texturas. Trilha que nos leva junto. Projeções de imagens bem planejadas. Elementos cênicos que não só ilustram, mas dão dinâmica e significados outros às cenas. Luz que desenha e envolve. E temos ainda uma preparação corporal primorosa. A direção constrói um elenco com total domínio da presença em cena, inteiros e honestos. Cada um dos/das intérpretes acha sua expressividade e sua precisão que imprime uma qualidade rara e que nos deleita.


Tudo isso ganha especial relevo no trabalho gestual de Corpomundo. No gesto não há deficiência, pois sua potência pode vir no mínimo, do suave, do intenso, no delicado, do veloz, do trêmulo, na lentidão, no descompasso até. Gestos que nos tocam naquilo que não precisa de explicação porque partilhamos desse universo interior também. E isso costura todo o espetáculo e ganha tradução no bailado do cadeirante que dança com seu sorriso que nos alcança ou no arremate da perna e na pisadela final no tango, fazendo do detalhe sutil uma assinatura no mundo.


Espetáculo presenteia nosso imaginário de belezas que se instalam ali por instantes e nos comovem. Vamos sendo contagiados, mas não por alguma doença ou vírus, não pelo ódio não pela intolerância, não pela total falta de empatia. Vamos sendo contagiados por tudo aquilo que nos lembra que podemos mais e muito, inclusive o sonhar e a arte que nos fazem não esquecer que somos afinal, humanos.


Direção: Paula Carvalho.

Coreografia: Bianca Bueno.

Elenco: Bianca Bueno, Clara Jesus, Eduardo Bordignon, Fernanda Vieira, Gabriel Nequete Machado, Gisele Martins, Guilherme Linck, João Henrique Domingues, Jorge Gil, Júlia Oliveira, Júlia Borba, Marcos Vargas, Maximilian Bodmann, Paola Pavezi, Paula Carvalho, Rafael Ruiz, Rodrigo Greco, Rodrigo Zabaleta, Thiago Montenegro e Vanessa Garcia.

Figurinos: Titi Lopes.

Iluminação: André Winovski.

Criação audiovisual: Têmis Nicolaidis.

Trilha Sonora: Gabriel Selvage, Augusto Baschera

e pesquisa do grupo.

Elementos cênicos e cenotécnica: Jorge Gil.

Operação de som: Pati de la Rocha.

Operação de vídeo: Eduarda Schneider.

Assistente de elenco: Marcelo Jayme Paula e Keter Velho. Assessoria de Imprensa: Sheila Meyer e Tati Casser.

Comunicação: Victória Citton.

Coordenação de produção: Pedro De Camillis.

Gestão Pertence Cultural: Paula Carvalho.

Produção executiva – Head: Geniane.

Fotos: Ana Viana.


Escrito por Airton Tomazzoni, do CENA.TXT.

Revisado por Marco Bourscheid.



 
 
 

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